#1 dois reais ou um amigo misterioso?
fazer amigos é um desafio. por isso, tente pensar em cada um como um quebra cabeça. caso você não curta quebras cabeças, reveja seus conceitos.
nós vivemos cercados de pessoas que não sabemos nada sobre todos os dias.
conforme crescemos, o número de amigos diminui e o número de colegas aumenta cada vez mais. e esse, de verdade, é o natural. se quando você era mais novinho tinha um grupo de amigos com mais o menos quinze pessoas e agora só tem cinco, fica em paz, a vida é assim. com o tempo a gente se torna mais seletivo, passa a não tolerar certos tipos de pessoa, não tem muito tempo ou vontade pra socializar e tá tudo bem.
você não é menos que ninguém por estar no terceiro período da faculdade e só ter feito três amigos de verdade.
você não é menos que ninguém por não ter um grupinho definido.
você não é menos que ninguém por não estar incluído nas saídas de sexta a noite do pessoal do trabalho.
fazer amigos deveria ser algo lindo. procurar pessoas com interesses, ideais ou objetivos parecidos com os nossos não devia ser um processo angustiante. na verdade, devia ser um processo de descobrir o outro e a si mesmo em simultâneo. ainda assim, de alguma forma, conseguimos transformar essa coisa maravilhosa que é a amizade em algo quase irreal.
se você parar pra observar, 90% dos personagens das séries dos anos 90 que você assiste tem um grupo de amigos formado que sempre se reúne em um lugar super cool todo episódio. tudo a nossa volta faz com que a gente queira estar junto. ter amigos com quem podemos rir junto e sair pra tomar café ou ir em um barzinho. infelizmente, nem todo mundo consegue se reunir pra tomar uma na arnaldo quintela ou visitar um café super faturado, tanto ao falar de conciliação de tempo e dinheiro isso acaba por ser inviável — e amigos, quem tem amigos com essa disposição e agenda compatível assim?
— pandemia e ansiedade social
descobri que eu tinha ansiedade social na primeira vez que fui ao shopping depois da pandemia. o ambiente em geral do shopping não me causou tanto pânico ou aversão, o que realmente me deixava ansiosa eram as lojas de roupa. eu, no auge da minha estranheza ao mundo externo, bastava pisar em qualquer loja com pessoas que eu chutasse que tivessem a idade próxima a minha que queria ir embora. eu criei uma certeza absoluta na minha cabeça de que as pessoas ao meu redor julgavam as peças de roupa que eu escolhia e a minha companhia para compras, vulgo minha querida mãe.
“ela nem tem peito pra usar essa blusa”
“que calça ridícula”
“casaco? em pleno fevereiro?”
“onde que ela vai usar esse vestido?”
“ela veio com a mãe? imagina, eu sempre venho fazer compras com a minha amiga e meu namorado”
admito que as coisas ficaram melhores de 2021 pra cá. eu só consegui superar a minha ansiedade com bastante terapia, porque nem tudo a gente resolve sozinho — lembrete amigo: buscar ajuda profissional não é uma fraqueza, principalmente se isso afeta negativamente sua vida, assim como estava afetando a minha.
ainda em 2021, eu tiver a sorte de conhecer uma pessoa maravilhosa. ela pôs debaixo da asa dela e me apresentou ao seu grupo de amigos aonde eu, felizmente, me encachei perfeitamente. o que, diga-se de passagem, é extremamente raro e nunca aconteceu de novo.
depois de uma mudança súbita na minha vida onde eu me vi obrigada a “começar do zero”, eu rapidamente consegui cinco amigas. amigas essas que se tornaram quatro, que se tornaram duas e depois viraram uma.
pode parecer pouco — e talvez pra alguns realmente seja, mas eu me conformei com isso. é claro que eu não parei de procurar amigos, mas ao invés de sofrer ao perceber que eu só tenho uma amiga e um bando de colegas eu resolvi encarar de um jeito menos pessimista. eu tenho uma amiga muito boa.
além do mais, nem tudo são más notícias; estou fazendo um amigo improvável também e essa é uma das sensações mais maravilhosas do mundo.
— amizades orgânicas
muito se fala das amizades com quem a gente tem tudo haver, os amigos perfeitos que saíram de um comercial da margarina, mas pouco se fala dos amigos que você nunca pensou que teria porque a primeira vista não tem nada haver com você.
meu conselho é: de uma chance a essas pessoas.
não estou dizendo pra você ir lá puxar papo com a pessoa que você xinga quando vê passar, para de bobeira. a sugestão é que você tente conhecer pelo menos um pouco de várias pessoas, entender quem se parece mais com você e quem nem tanto. se as portas não se abrirem pra você, chute elas.
as coisas simplesmente fluem com as pessoas certas. a gente tem aquela sensação gostosa de pertencimento e as melhores piadas em momentos nada propícios. busque não criar expectativas sobre as pessoas, elas são tão falhas quanto você. por isso tente não idealizar seres humanos, isso é só receita pra frustração. ao invés disso, deixa fluir. se permita conhecer e ser conhecido, entender e ser entendido, então talvez você se surpreenda com o que pode nascer deste acordo mútuo de gostar de rir junto e falar mal dos outros.
— observações finais
recentemente eu li duas newsletters que falavam sobre amizade e como a falta de amigos impacta as nossas vidas, caso alguém tenha se interessado por esse post, aqui estão os links!
com amor, júlia
eu precisava disso